segunda-feira, 10 de outubro de 2022

 https://actualidad.rt.com/opinion/oleg-yasinsky/443889-neoliberalismo-privatizo-agenda-izquierda

 

Como o neoliberalismo privatizou a agenda da esquerda

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  • "Se não é possível vencer teu inimigo, una-te a ele", diz um refrão herdado pelo poder desde os tempos antigos. Dentro do grande retrocesso histórico, que será lembrado pelos antropólogos do futuro, como o neoliberalismo, há poucas coisas resgatáveis. Quando o sistema mundial capitalista conseguiu a destruição de seu principal inimigo, à União Soviética, e a seus povos com toda sua beleza humana e uma total ingenuidade política, foi vendida a eles a falácia da "economia social do mercado" e o brutal laboratório pinochetista chileno, graças aos contos de fadas midiáticos se converteu para os governos no principal modelo a seguir, o grande projeto humanista de esquerda mundial que foi praticamente nocauteado.

    Mais além de uma outra resistência heróica aqui ou ali, o neoliberalismo se apoderou de tudo, e mais alem do crime econômico, converteu-se na única lógica do desenvolvimento, para assegurar a irreversibilidade de seu triunfo, ele se dedicou a acabar com as culturas e as memórias dos povos, convertendo a educação, a arte e o pensamento primeiro numa mercadoria e logo após eliminá-los porque desnecessários.

    Para poder nos dominar bem e sem riscos, havia que idiotizar-nos.

    Mas no umbral entre nossos séculos sucedeu algo mais. Se nas décadas anteriores, dentro da competência ideológica de dois sistemas, que não foi outra coisa que uma guerra mundial de uma cambiante intensidade, híbrida, como diriam agora, o capitalismo todavia era produtivo, ainda gerava uma aceitável distribuição dos recuros nos países metropolitanos, e apesar da costumeira e brutal exploração dos recursos de sua enorme periferia, mantinha um atrativo para uma boa parte da população, por níveis de bem estar material e liberdades individuais, pelo menos nos países mais ricos. As pessoas minimamente, em teoria, podia optar pelas vantagens e desvantagens de ambos os sistemas.

    Com o desaparecimento dos "socialismos reais" na Europa, perdeu-se um dos principais estímulos da lógica capitalista que é a competição, e como a opção socialista deixou de aparecer como uma possibilidade histórica e ameaça para os poderes do Ocidente, é lógico que as conquistas sociais até nos países mais ricos foram se reduzindo, abrindo o caminho para uma exploração sem limites como o sonho dos defensores do "fim da história". Ao mesmo tempo, junto à revolução digital, as especulações financeiras internacionais de longe ganharam a competição com os capitais nacionais produtivos.

    Gerar bens reais se tornou cada vez menos rentável e com o desenvolvimento do manejo da imagem e da psicologia humana, a televisão, internet e redes sociais em mãos dos de sempre, só num par de décadas serviram a nossas mesas um mundo paralelo, uma fuga perfeita da realidade insuportável, com uma promessa de mundo feliz para os que se comportarem bem.

    Os políticos tradicionais, os homens de Estado, rapidamente foram trocados pelos gerentes tecnocratas a serviço das grandes corporações e cujo único requisito é não saber distinguir entre uma empresa e um país, que além disso já não é praticamente o mesmo. Para assegurar seu triunfo, ao neolibealismo restavam somente as últimas quatro tarefas: a primeira, a destruição da educação pública, de onde no mundo anterior os cidadãos aprendiam as coisas básicas acerca deste mundo e que tradicionalmente foram os focos da dissidência social e do pensamento crítico; a segunda, acabar com a comunicação direta entre os seres humanos, rompendo o tecido social tradicional, uma função que nas grandes cidades cumpriram as redes sociais, com essa ilusão de unir, desunindo e viciados; a terceira,  muito relacionada com a anterior, que é a destruição de nossas culturas locais, gerando uma nuvem mundial cosmopolita de onde consumiremos somente um tipo de produção cultural criada e controlada por eles, algo que define os valores, os modelos e os hábitos sociais das gerações que virão, permitindo assim manipular-nos de uma forma simplificada e uniforme. E a última,  quarta tarefa, era tal vez a mais delicada: O que fazer com os que dizem ser da esquerda,  supondo que, com suas lutas, organizações, conhecimentos e olhar crítico desde os tempos imemoráveis poderiam impedir o cumprimento desses planos?


     

    O grande computador que é o coração e o cérebro tecnocrata do sistema neoliberal deu uma resposta muito simples: o roubo, que é a especialidade e a expertise do sistema, que a estas alturas não pode oferecer ao ser humano absolutamente nada novo, nem sequer uma ilusão. E enquanto nossos dogmáticos permaneciam em sua eterna e cada vez mais estéril discussão sobre Trotsky, Stalin e Mao, o sistema neoliberal se apropriou da agenda da esquerda, de uma vez, privatizando todo o pacote de absolutamente todas as lutas de gerações e gerações.

    Nos últimos anos de sua vida, Fidel Castro nos advertia que a única coisa que poderia fazer fracassar a humanidade em sua luta contra o capitalismo seria a lumpenização que esta produz em todas as camadas sociais. Uma lumpenização que nos desumaniza e nos impede de compreender o sentido desta luta.

    Esta lumpenização foi o objetivo das políticas educativas e culturais das últimas décadas, quando desde a escola as matérias como história e filosofia foram declaradas supérfluas e a televisão nos acostumava ao "fast food" intelectual, sempre alinhado com certas doses de veneno ideológico anticomunista.

    Como o adversário é muito profissional, não vimos o momento do roubo. Só amanhecemos dando-nos conta que nossas bandeiras há muito tempo já estavam em mãos inimigas. Nossa luta histórica, pelos direitos das mulheres é convertida em feminismo agressivo, ameaçando o mundo com a guerra dos sexos, a defesa da dignidade e dos direitos das minorias sexuais se converteu num show indigno e autoritário que poderia ser a cátedra da hipocrisia e desrespeito, a luta vital por defender nosso planeta da voracidade do sistema é encabeçada e promovida por corporações verdes, dispostas a investir milhões em salvação de qualquer baratinha ou girino, menos na do ser humano.

    A imposição de oxímoros tipo "economia social do mercado", "desenvolvimento capitalista sustentável" ou "as guerras humanitárias" continuam decompondo o cérebro dos estimados espectadores, que já não tem sequer os elementos mais básicos para armar a realidade fragmentada dentro da enorme cratera gerada pelo cometa neoliberal que  chocou-se com nosso planeta. As verdadeiras lutas pelos direitos, antes sempre uniam as pessoas. As lutas atuais, manipuladas pelo sistema, nos desunem. Declarando a tolerância, se promove a hipocrisia, a desconfiança e o ódio.

    Agora dá risos recordar nossa crítica das sociedades socialistas por seus duplos padrões, que alguma vez nos indignaram tanto. Os padrões de agora montados sobre a areia movediça do relativismo, a ignorância e sobretudo a arrogância, promovidos pelo sistema ocidental, são múltiplos. Estão cheios de contradições que ninguém vê, já que não sabemos olhar com nossos próprios olhos. 

    Neste grande reinicio nada está oculto, a manipulação, o manejo e o autoritarismo estão totalmente abertos, só que ninguém quer ver, por medo, por desconforto ou simplesmente porque não sabe distinguir as formas e as cores.

    As massas indignadas dispostas a sair às ruas em diferentes lugares do planeta, milhares de jovens com valor e sacrifício dispostos a lutar por um mundo mais justo não sabem que o sistema em seu cálculo maquiavélico já tem preparado novos Boric ou Zelenski, para trocando-os nada mude, porque todas as lutas "por tudo que é do bem contra todo o mal" promovidas pelo sistema e seus porta-vozes, sempre são uma armadilha para abrir a tampa,, retirar algum vapor e devolver aos povos deixando-os dentro da mesma panela.

    Devemos recordar que as lutas culturais e éticas não podem não ser parte de um projeto de mudança política muito mais profundo. E este projeto é impossível sem uma organização cidadã com seu pensamento próprio, crítico, autônomo e respeituoso com o conhecimento humano acumulado. Este conhecimento crítico não pode ser trocado por memes, por 'hashtags' e pelos slogans radicais. Em caso contrário, constantemente estaremos devolvendo-nos ao mesmo ponto da ressaca social, de onde os donos do mundo sempre terão seus diferentes gerentes, segundo o gosto do cliente, sejam conservadores, liberais, socialistas ou capitalistas.

    terça-feira, 23 de agosto de 2022

    sexta-feira, 12 de agosto de 2022

    Um dia glorioso para a democracia

    "Se a sociedade civil tivesse há mais tempo reagido, talvez Bolsonaro não tivesse ido tão longe", diz Tereza Cruvinel após os atos de 11 de agosto

    Ato pela democracia na Faculdade de Direito da USP, São Paulo (Foto: Felipe Gonçalves/Brasil 247)

    Por Tereza Cruvinel*

    O 11 de agosto lavou a alma dos brasileiros cansados das ameaças e bravatas de Bolsonaro, da verborragia de militares contra o sistema eleitoral, da estupidez dos bolsonaristas que pedem AI-5 e ditadura. O ato na Faculdade de Direito da USP foi um culto ecumênico à democracia e em todos os estados os brasileiros disseram NÃO ao retrocesso, ao obscurantismo, às trevas que supúnhamos ter vencido.

    Antes tarde do que muito tarde. Se a sociedade civil tivesse há mais tempo reagido, talvez Bolsonaro não tivesse ido tão longe. Alguns condescenderam dizendo que ele era apenas bravateiro, ou que não se devia esticar a corda, ou que ele mesmo se enforcaria com sua incompetência e ignorância. Outros pensaram, sem dizer, que uma reação grandiloquente acabaria favorecendo Lula.

    Foi preciso que Bolsonaro traísse o próprio país difamando seu sistema eleitoral junto a embaixadores estrangeiros,  para justificar um possível "capitólio" em novembro. Foi preciso que os militares explicitassem sua aliança com Bolsonaro fustigando o TSE e se arvorando em fiscalizadores da eleição, embora a Constituição não lhes atribua qualquer papel nessa área.

    Foi tarde mas não muito tarde, pois veio antes do mal ser consumado. Mas não pode a luta pela democracia parar no 11 de agosto. O dique de contenção terá que ser mantido até que a eleição aconteça, e até que o presidente eleito tome posse, jurando a Constituição sob a qual haverá de nos devolver à normalidade.

    Os movimentos sociais planejam um agosto de lutas, com atos nos dias 18 e 20 de agosto e outro em 10 de setembro, depois da festa bolsonarista no dia da Independência. Não vamos nos misturar com eles. Os juristas, empresários e outras figuras do primeiro andar que muito contribuíram para os atos de ontem não podem também se desmobilizar.

    Agora virão também as manifestações no exterior. No dia 13 acontecerá na Union Square o ato "Nova York em Luta pelo Brasil". Outros estão sendo programados na Europa.

    A luta não está ganha mas agora de fato começou. Enterremos os restos da ditadura que permitiram a germinação do bolsonarismo e da extrema-direta, e permitiram que milhares de brasileiros fossem abduzidos para uma realidade paralela em que se acredita na força do demônio, na virtude das armas e no benefício do ódio. 

    *Teresa Cruvinel é colunista/comentarista do Brasil247, fundadora e ex-presidente da EBC/TV Brasil, ex-colunista de O Globo, JB, Correio Braziliense, RedeTV e outros veículos. - Fonte: Brasil247

    quinta-feira, 11 de agosto de 2022

    ESTADO DE DIREITO SEMPRE - 11 de agosto de 2022: ameaças à democracia unem o Brasil em dia histórico

    Brasileiros e brasileiras de diferentes segmentos e ideologias se uniram para fazer frente às novas ameaças ao Estado Democrático de Direito feitas por Jair Bolsonaro



    Em 11 de agosto de 1827 foram criados os primeiros cursos superiores de Direito no Brasil. Também em um dia 11 de agosto, do ano de 1992, milhares saíram às ruas em São Paulo em uma passeata que deu início às mobilizações que culminaram no impeachment do ex-presidente Fernando Collor. A data também marca o Dia do Estudante.

    Próximo a um dia 11 de agosto, mais precisamente em 8 de agosto de 1977, o jurista Goffredo da Silva Telles Júnior leu a “Carta aos Brasileiros”, na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). Tratava-se de um manifesto contra a ditadura militar e que marcou um ponto de inflexão na luta contra o autoritarismo dos anos de chumbo.

    Não à toa que, diante de novas ameaças à democracia em 2022, encampadas pelo atual presidente Jair Bolsonaro (PL), o dia 11 de agosto foi escolhido para a leitura da “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito”, elaborada pela Faculdade de Direito da USP.

    O documento, que reúne mais de 900 mil assinaturas, foi lido na mesma Faculdade de Direito e reuniu uma multidão de juristas, estudantes, sindicalistas, empresários e políticos. Trata-se da mais ampla mobilização contra Bolsonaro desde o início de seu governo, em 2019.

    Apesar de não citar nominalmente o presidente, a carta pela democracia foi elaborada para fazer frente às ameaças que o atual mandatário faz ao sistema eleitoral brasileiro, colocando em risco a realização das eleições e, por consequência, a soberania da escolha popular. Além da instituição em São Paulo, outras 35 universidades, em todo o país, realizaram atos para a leitura da carta.

    “Ao invés de uma festa cívica, estamos passando por momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da República e insinuações de desacato ao resultado das eleições (...) Nossa consciência cívica é muito maior do que imaginam os adversários da democracia. Sabemos deixar ao lado divergências menores em prol de algo muito maior, a defesa da ordem democrática”, diz um trecho do manifesto, que foi lido, no ato da USP, por pelas professoras da instituição Eunice Aparecida de Jesus PrudenteMaria Paula Dallari BucciAna Elisa Bechara e pelo advogado Flávio Bierrenbach.

    Além da carta elaborada pela Faculdade de Direito da USP, foi lido no mesmo evento o manifesto “Em Defesa da Democracia e da Justiça”, organizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e que teve adesão de 107 entidades. (...)

    CLIQUE AQUI para ler [na íntegra] a postagem assinada pelo jornalista Ivan Longo no site da Revista Fórum.

    quarta-feira, 10 de agosto de 2022

    O inverno do traidor (O poder é efêmero e a infâmia eterna)

     

    Por Weiller Diniz* 

    Os traidores são as criaturas mais vis da humanidade. Não têm escrúpulo, moral, vergonha ou dignidade, apenas ambições. Em geral são medíocres e, por isso, se prostituem por qualquer mísera paga e desprezam os valores da decência e da civilização para que suas insignificâncias adquiram relevância, ainda que efêmera. Na história é a cobiça que engatilha as estocadas traiçoeiras. Elas, invariavelmente, são responsáveis por cicatrizes institucionais permanentes, hemorragias democráticas duradouras, sangramentos civilizatórios e feridas profundas por várias gerações. Para o chanceler de Napoleão Bonaparte, o tortuoso Talleyrand-Périgord, que apunhalou o próprio imperador, “traição é uma questão de datas”. A traição é tradição e transborda de abjetas infidelidades. Judas Iscariotes encabeça a lista dos infames e é a tradução de deslealdade. O mais conhecido tartufo do mundo delatou Jesus Cristo aos soldados romanos em troca de 30 moedas. Atormentado, suicidou-se. Outro emblema secular da perfídia é Marco Júnio Bruto, Brutus. Ele se aliou ao general Caio Cássio para usurpar o poder e assassinar o imperador Júlio César. O discurso de Marco Antônio nas escadarias do Senado romano seccionou os apóstatas, eviscerou os dissimulados, expôs habilmente os reais inimigos do povo e, sobretudo, reabilitou César, vítima da emboscada fatal. Brutus suicidou-se dois anos depois.

    O cortejo das falsidades na história é engrossado pelo marechal Phillipe Pétain, oficial francês que esfolou a própria pátria e se curvou a Adolfo Hitler para pisotear a França. Ele foi acusado de deportar 77 mil pessoas para os campos de extermínio. Seu legado foi a vergonha, a infâmia e, ao final, a condenação à morte, convertida depois em prisão perpétua. Heinrich Himmler, carniceiro da SS nazista, antevendo a queda ensaiou a falseta contra Adolf Hitler e negociou a rendição da Alemanha com os Aliados em troca de sua liberdade. Fracassou. Ele foi considerado criminoso de guerra. Preso, se matou. Na América do Sul maior símbolo da insídia é o ditador chileno Augusto Pinochet, ídolo de Bolsonaro. Em agosto de 1973, o presidente Salvador Allende indicou Pinochet para assumir o comando do Exército, um dos militares que considerava mais leais. Semanas depois, Pinochet chefiou uma quartelada internacional para derrubá-lo, bombardeou o Palácio La Moneda e implantou uma ditadura sanguinária. Pinochet ofereceu um avião para a fuga de Allende, mas a conspiração era mais cruel: atirar o presidente golpeado da aeronave.

    No Brasil a face mais tenebrosa da impostura é Joaquim Silvério dos Reis, um coronel da cavalaria, reles delator, figura deletéria sacralizada pelos Torquemadas da operação Lava Jato, que também enganou a Nação e experimentou um triunfo temporário, obtido através da usurpação, ilicitudes e transgressões. Joaquim Silvério se tornou um dos traíras mais famosos do país. Para escapar das suas dívidas com a Coroa, ele entregou Joaquim José da Silva Xavier, Tiradentes, líder dos inconfidentes que acabou enforcado e esquartejado. Além das dívidas anistiadas, o alcagueta foi premiado com uma pensão vitalícia. Desnecessário sublinhar qual Joaquim é reverenciado e qual é amaldiçoado.

    A nova face dessa impostura, da ganância pelo poder e dinheiro é Sérgio Moro. Esse caráter deformado traiu a Constituição, traiu a verdade, traiu a história, traiu o Judiciário, traiu procuradores, traiu o governo que serviu e traiu o partido que o acolheu. Sente agora o fio da lâmina fria da insídia em sua nova legenda, o União Brasil. A legenda escalou uma candidatura fake à presidência e favoreceu Lula, a cabeça guilhotinada por Moro nos cadafalsos traiçoeiros da Lava Jato.  (...)

    CLIQUE AQUI para ler na íntegra.

    LUIZ CARLOS PRESTES NO 'JÔ SOARES ONZE E MEIA' - Entrevista realizada em 1990

     

    *Via Blog do Júlio Garcia

    REATIVANDO O BLOGUE COLETIVO: CONVITE À L'ARMATA!!!!



    BLOGO! BLOGO! BLOGO! LEONE! LEONE! LEONE!

    Companheiros(as):

    Creio que não sejam necessárias muitas explicações [e argumentos] para reafirmar a importância [e a oportunidade] de reativarmos este - já histórico! - Blogue Coletivo. O momento conjuntural vivenciado no país - e as próximas e decisivas eleições, em particular - já fala por si.

    Fica aqui, portanto,  nosso modesto Convite para que o conjunto da L'Armata de Editores Independentes retomem suas contribuições neste espaço democrático de Resistência - e de Luta!

    Júlio C. S. Garcia

    Editor do Blogue 'O Boqueirão Online' e do 

    'Blogue do Júlio Garcia' 

    sexta-feira, 4 de outubro de 2019

    A conspiração confessada por Janot e a hora da OrCrim Lava Jato no banco dos réus



    Por Jeferson Miola*
    O livro de Rodrigo Janot agrava sobremaneira a situação dos agentes da organização criminosa – OrCrim – chefiada por Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, como Gilmar Mendes chama a força-tarefa da Lava Jato.
    Janot ilustra com riqueza de detalhes as numerosas ilegalidades, desvios e crimes perpetrados pelo bando que corrompeu o sistema de justiça do país e promoveu a conspiração que alçou ao poder a extrema-direita para executar o projeto racista, entreguista e liquidacionista à feição dos interesses dos EUA.
    No capítulo 15, sugestivamente intitulado O objeto de desejo chamado Lula, Janot relata reunião em setembro de 2016 na qual Deltan Dallagnol, acompanhado de 4 comparsas de Curitiba, pede para ele, Janot, antecipar a denúncia contra Lula e o PT, “nem que para isso tivesse que deixar em segundo plano outras denúncias em estágio mais avançado”.
    O grave, segundo o próprio Janot, é que para viabilizar a aceleração da denúncia forjada contra Lula, o bando de Dallagnol havia desobedecido ordem expressa do falecido ministro Teori Zavascki que proibia a força-tarefa de investigar e denunciar Lula por crime de organização criminosa, dado que este processo seguia no Supremo.
    Janot então reclamou a Dallagnol – e ficou só na reclamação: “Vocês desobedeceram à ordem do ministro […]”.
    É especialmente grave que, naquela altura dos acontecimentos, em setembro de 2016, Janot já tinha consciência de que o espetáculo midiático do power point produzido em desobediência à ordem de um ministro do STF “levou à condenação do ex-presidente Lula e, depois, à exclusão de sua candidatura nas eleições presidenciais de 2018”.
    O ex-procurador-geral da República prevaricou, pois sabia que seus subordinados estavam atentando contra o ordenamento jurídico brasileiro com propósitos pessoais, políticos e partidários.
    E assim, com atropelos, ilegalidades, arbítrios e conivências do Janot, de desembargadores do TRF4 e do STJ e dos comemorados ministros do STF  – “aha, uhu, o Fachin é nosso!”, “In Fux we trust”, “Barroso vale por 10 PGRs” – o Estado de Exceção foi aprofundado e a conspiração seguiu sua marcha inexorável rumo à tragédia atual.
    Agora não se está diante da falsa discussão inventada por Moro e Dallagnol e difundida pela Rede Globo sobre suposta ilegalidade e inautenticidade das provas reveladas pelo Intercept que incriminam agentes públicos implicados na conspiração.
    A farsa do suposto ataque hacker, antes já inverossímil, tornou-se agora totalmente obsoleta e bizarra; imprestável como álibi dos criminosos.
    Agora se está diante de confissões e revelações de ninguém menos que o ex-Procurador-Geral da República, quem a seu tempo também foi o chefe hierárquico da força-tarefa da Lava Jato e que, ao invés de agir nos marcos da Constituição, agiu como integrante do bando.
    Está tudo escrito e documentado no que pode ser chamado de “livro aberto da conspiração” Nada menos que tudo, que alguns consideram a “delação premiada do Janot”.
    A conspiração que destruiu a democracia e devastou o país a partir do impeachment fraudulento da Dilma seguido da prisão e inabilitação farsesca do Lula para impedi-lo de vencer a eleição de 2018 foi confessada com todas as letras por Janot.
    A farsa da Lava Jato foi desvelada na sua plenitude. A conspiração e os conspiradores que atentaram contra o Estado de Direito e corromperam a justiça do país devem ser imediatamente demitidos dos cargos públicos e submetidos a severo julgamento.
    A confissão do Janot coloca a OrCrim Lava Jato no banco dos réu. Aos procuradores da Lava Jato e a seus comparsas no judiciário, na polícia federal, no empresariado, nos círculos militares, no parlamento e na mídia deverá ser assegurado o amplo direito de defesa que sequestraram do Lula.
    Eles deverão ter o direito, por exemplo, de se manifestarem/se defenderem por último, ao final de toda confissão/delação que Janot fará.
    É chegada a hora do julgamento e da condenação dos agentes públicos que agiram em bando e destruíram o Estado de Direito, a economia, a soberania nacional, os empregos e a vida do povo brasileiro.
    ...
    *Jeferson Miola é Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial - Via Brasil247

    terça-feira, 30 de abril de 2019

    Por que as mulheres sábias são desafortunadas?


    Fernán Caballero foi na realidade uma mulher disfarçada sob um pseudônimo

    BERNA GONZÁLEZ HARBOUR
    Madrid 5 ABR 2019 - 10:21 CEST


    Uma leitora sustenta a biografia de Fernán Caballero. JENIFER SANTARÉN

    Alguns autores devem se lamentar atualmente de não serem autoras para poder receber algo mais da atenção em tempos em que as editoras buscam eminentemente vozes de mulher ante o tsunami feminista. Mas ao longo da história foi o contrário: muitas mulheres se viram obrigadas a adotar pseudônimos masculinos para conseguir publicar e abrir-se logo ao mundo editorial. Foi o caso de Cecília Böhl de Faber e Ruiz de Larrea (1796-1877), que escolheu o nome de Fernán Caballero e com ele conseguiu converter-se "no autor espanhol" mais traduzido e lido na Europa. O crítico José Fernandez Montesinos lhe atribui o início da novela espanhola contemporânea.

    E não foi precisamente graças a seu pai o impulso que adquiriu esta espanhola filha de alemão e da região de Cádiz com uma relação complicada que deixou formalizada em cartas que voavam como balas entre a Alemanha e Espanha quando se separaram. Ele explicava assim as causas: "as humilhações que a sorte me impõe pelas extravagâncias de minha mulher. Se minha mulher tem tido a inconcebível loucura de imaginar-se que tal é a hora necessária para minha felicidade, está atrozmente enganada. Se não quer ser outra, tem agido muito bem em ir-se; quando ela mudar, tornar-se humilde, dócil, obediente, complacente e econômica, será recebida por mim com os braços abertos". Escreveu em 1805, segundo consta a biografia escrita por Milagros Fernández Poza para a coleção Mulheres na História.


    Essa mãe que não quis ser outra, nem dócil, nem obediente, nem econômica, pelo contrário tentou inculcar em seus filhos e filhas sem distinção o amor à literatura. Sobre isso discordaram ex-marido e ex-mulher num diálogo de surdos que as cartas refletiam como testemunho do machismo estruturado que tentava subjugar então à mulher: "A esfera intelectual não foi feita para as mulheres", escrevia o pai a sua ex-mulher. "Deus quer que o amor e o sentimento sejam seu elemento. Por que são desafortunadas todas as mulheres sábias? Por que são detestadas? Por que são ridicularizadas, pelo menos? Não se encontra todavia uma mulher a quem a mais pequena superioridade intelectual não produza alguma deficiência moral. O dia que forem queimados teus 'Direitos da mulher' será para mim um grande dia".

    Em carta com data de 14 de setembro de 1806, ela lhe responde: "Retirando das mulheres a capacidade de julgar por si, de formarem-se seus princípios e caráter, se as fazem escravas de suas paixões, e quando as quiserem subordinar à razão do homem -como se a razão e a alma tivesse sexo-, e se aquele homem destinado a guiá-las não tem razão... que farão as pobres então?

    Sua mãe não quis ser outra, como lhe pedia seu pai. Cecília não foi outra senão outro, pelo menos de nome. Um disfarce eficaz em forma de pseudônimo que adotou para levar adiante sua carreira. Tudo mudou e as estantes estão hoje cheias de autoras mas, felizmente, nenhum homem necessita pseudônimo de mulher.


    https://elpais.com/cultura/2019/04/05/actualidad/1554451707_966586.html