sábado, 30 de setembro de 2006

Congresso estadunidense oficializa a espiral do diabo

Agora estadunidenses torturarão oficialmente (sem chamar a tortura de "tortura") estrangeiros que retaliarão atacando cidadãos estadunidenses o que levará os EUA a se aprofundar na intervenção no estrangeiro o que fará mais estrangeiros serem torturados...

Cenário bem ao gosto d'El Diablo (ver abaixo).

Trocar de analista

Meus amigos, muito bom Vi o Mundo, sítio do jornalista Luiz Carlos Azenha. Eis o que ele diz sobre o preconceito de classe e de cor dos formadores de opinião de sempre. Reproduzo em quantidade, pois é muito bom, seu texto "Golpe Branco":
Golpe branco: comentaristas desqüalificam eleitores de Lula

O documentário "A Revolução não será Televisionada", sobre o golpe contra Hugo Chávez por líderes da oposição, com o apoio explícito de emissoras de televisão e apoio tácito dos Estados Unidos é imperdível.

Deixa clara a manipulação de imagens e informação com objetivos políticos de uma forma nunca antes registrada na História.

Só vendo para acreditar.

No Brasil, às vésperas da eleição, o juiz supremo delas, Marco Aurélio de Mello, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, compara o escândalo do dossiê ao de Watergate, aquele que derrubou Richard Nixon.

Fica implícito, pela declaração, que a crise brasileira pode tomar o mesmo rumo.

Quando isso sai da boca do encarregado de arbitrar as eleições é de arrepiar.

No campo da mídia, comentaristas idiotas dizem não entender porque, apesar de tantos escândalos, Lula pode ser reeleito ainda no primeiro turno.

São idiotas no sentido literal da palavra, que era usada na Grécia antiga para se referir àqueles que se preocupavam essencialmente consigo mesmos e ignoravam os interesses da comunidade.

Os que ficavam de fora da polis eram chamados de idiotas.

Isolados, faltava a eles capacidade de analisar e debater questões públicas e políticas.

Pensei nos idiotas gregos quando notei a surpresa de nossos analistas com a resistência de Lula ao bombardeio dos escândalos.

Ainda não foi desta vez, escreveu um blogueiro.

Ele anunciava o resultado de um levantamento indicando vitória do presidente-candidato em primeiro turno - mesmo depois de novas denúncias, que essencialmente transformaram os tucanos em vítimas de um complô petista.

Será que essa gente não sabe votar? - deve se perguntar o blogueiro.

Escribas de aluguel e jornalistas que sentem no ar para que lado sopram os ventos patronais dizem que se Lula vencer será com os votos dos grotões.

Usam a palavra de forma pejorativa, como se o voto dos eleitores da periferia e do interior do Brasil valesse menos que os da classe média supostamente bem informada.

Eu me sinto à vontade para escrever sobre o atual governo: investiguei e denunciei integrantes dele e tive uma discussão com o presidente, ao lado de outros jornalistas, durante a visita de Lula à República Dominicana.

Mas o trabalho de um jornalista deve ser guiado pela imparcialidade.

A pior coisa que um repórter pode fazer é trombar com os fatos.

Nossos analistas ainda não se deram conta de que aplicam um modelito anos 60 para analisar um país que, para o bem e para o mal, é outro.

Em vez de trocar de povo, devemos trocar de analistas.

Eles parecem escrever uns para os outros, como se pudessem pautar, da marginal do Tietê, a conversa no bar de uma esquina de Rondonópolis, Agudos ou Barreirinha.

Franklin Martins chegou perto de entender o novo Brasil em recente entrevista à revista Caros Amigos, ao dizer que os tradicionais formadores de opinião não formam mais opinião no Brasil.

Ele usou o exemplo da pedra no lago para explicar como o processo se dava no País: a partir da classe média, a opinião se difundia em ondas concêntricas, até atingir o povão.

Segundo Franklin, as ondas agora batem num dique e voltam: a classe C tem seus próprios interesses a defender - e já percebeu que eles nem sempre coincidem com os dos moradores do andar de cima, na definição de Elio Gaspari.

Houve um tempo em que o Rio de Janeiro, nossa gloriosa ex-Capital, era considerado a caixa de ressonância do Brasil.

Nada de importante acontecia no País sem antes passar por Ipanema ou Leblon. Mais recentemente, pelo Jardim Botânico.

A supremacia econômica paulista pôs fim à hegemonia carioca e o território que nos deu a Bossa Nova foi loteado entre o Comando Vermelho e políticos provincianos.

O que se desfaz agora é a hegemonia midiática do eixo Rio-São Paulo - no linguajar dos acadêmicos da USP.

Não precisei consultar um deles para descobrir.

Consultei meu guru político, o Cebolinha, editor de imagens da TV Globo de São Paulo.

Ele teve paciência de Jó para acessar, na internet, os sites dos jornais mais importantes das cidades médias brasileiras.

Fez uma descoberta simples: eles não tem dado tanto espaço e destaque à crise do dossiê quanto a mídia dos pretensos centros de irradiação da opinião brasileira, situados no eixo Rio-São Paulo.

É uma faceta bastante simplória de um fenômeno que deveria aparecer no radar de nossos analistas, se eles se dessem ao trabalho de desviar o olhar, um pouco que fosse, para além do próprio umbigo.

Lembram do sonho de Juscelino, de interiorizar o Brasil com a construção de Brasília?

Pois é, ainda que nem todos tenham notado, aconteceu.

Pedro Bial, em reportagem para o Jornal Nacional, esteve lá, na cidade que surgiu do nada por conta do agronegócio.

Aconteceu, amigos: dá para atravessar o Brasil de Santa Maria a Imperatriz, sem passar pela costa.

E existe vida neste Brasil interiorano, ainda que haja mais correspondentes da mídia brasileira em Nova York do que em Manaus.

Se eu tivesse tempo, dinheiro e menos o que fazer, gostaria de submeter nossos comentaristas políticos a um breve questionário:

1. Qual foi a ocasião mais recente em que o senhor ou senhora usou transporte público? (Não vale o metrô de Paris);
2. Quando foi a sua mais recente visita a Dourados, em Mato Grosso do Sul?
3. Já esteve em Campo Grande ou Goiânia?
4. Foi recentemente a Parelheiros?
5. O senhor ou senhora já entrou numa lan house? Sabe o que é isso?

Com exceção da primeira pergunta, que é pura provocação, as demais fornecem pistas para desvendar o que não é necessariamente um crime: o Brasil costeiro morreu.

E já vai tarde.

Sejam benvindos a um país mais complexo, em que o poder dos coronéis locais, montados em suas concessões de emissoras de rádio e tevê, se esgarça nas franjas.

Se você não sabe o que é uma lan house, nem foi a Parelheiros, não se sinta um idiota - no sentido grego da palavra.

Lan house é internet de pobre.

Um real por hora.

Está lá, em todo bairro pobre de toda cidade brasileira.

É na lan house que a periferia orkuta; que joga aqueles videogames em que o sangue jorra; que imprime currículos em busca de empregos inexistentes; que baixa o vídeo da Cicarelli.

Em resumo, é na lan house que a periferia faz ligação direta no ônibus que nossos comentaristas supõem dirigir.

E, porque estive lá, descobri em Parelheiros o que talvez seja a classe C a que se referiu Franklin Martins.

A classe média sem água e esgoto.

A mais completa tradução da Belíndia, das Bélgicas e Índias que se fundem no Brasil: carro usado na garagem, máquina de lavar, videogame, dvd, internet discada, ligação clandestina de água, bacias para recolher água de chuva, fossa e água de chuveiro desembocando direto na rua.

Lá o eleitor conversa enquanto o telejornal está no ar, comenta os diálogos da novela, vai na lan house procurar emprego e conversar pelo messenger. Os estudantes dão copy e paste para fazer trabalhos de escola.

Estejam certos de que os eleitores de lá não obedecem ao andar de cima.

Então o Lula pode ser reeleito com os votos de revolucionários da periferia?

Pelo contrário, ele terá os votos dos conservadores, no sentido literal da palavra.

E o que estes eleitores querem conservar?

A tênue ascensão social que tiveram nos últimos quatro anos está expressa no grande crescimento das vendas da linha branca de eletrodomésticos e no espetacular crescimento do número de aparelhos de telefonia celular no Brasil.

Ou alguém acha que as Casas Bahia se tornaram um fenômeno por causa da freguesia dos Jardins paulistanos ou da Barra da Tijuca?

Na periferia das grandes metrópoles existe um movimento silencioso e não organizado que responde pela sigla de MCL, o Movimento Conservador de Lula.

Eleitores para os quais a perda de um emprego ou uma doença na família significa mergulhar de novo abaixo da linha da pobreza.

Quando os eleitores de Paralheiros se juntam para fazer política, é para pedir água, creche, escola. Não dá para trazer asfalto? Faz pelo menos o meio-fio.

No Brasil, só as ambulâncias são mais superfaturadas do que os marqueteiros.

Duda Mendonça, vendedor de enciclopédias, fez fortuna às custas da ignorância dos políticos.

Eles se merecem.

Tanto quanto nossos veneráveis comentaristas, os gênios do marketing eleitoral brasileiro aplicam idéias belgas em nossa Índia.

Eles ainda se imaginam no Brasil costeiro, lançando idéias continentais para um país que agora é local.

Toda política é local, diz o ditado.

Nunca foi tão verdadeiro.

Agora, o que é bom para Campo Grande pode não servir para Goiânia.

Existem mercados e interesses econômicos locais.

Sabem o que me contou o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo?

Que as montadoras fugiram do ABC em busca de isenção fiscal e mão-de-obra mais barata.

E o que aconteceu?

Os metalúrgicos do Paraná, de Minas Gerais e da Bahia estão cada vez mais próximos de obter salários equivalentes aos do ABC.

Qual o impacto econômico e político regional deste fenômeno?

A maior rede de material de construção de Mato Grosso é de um empresário tosco e simpático que conheci em Nova York, que sentia saudade de arroz-feijão depois de três dias em Manhattan.

O homem vai se tornar um fenômeno estudado pela Harvard Business School antes de ser descoberto pela mídia brasileira.

No cartão pessoal dele, além de nome e telefone, está escrita a meta de vendas que pretende atingir no ano.

Fez fortuna na rebarba do agronegócio.

O mesmo agronegócio que exibe sua cara perversa ao avançar sobre o sul da Amazônia, devastando o cerrado e a floresta tropical para plantar gado e soja.

Em todo o Centro-Oeste, milhões de brasileiros foram beneficiados direta ou indiretamente pelo sucesso do agronegócio e uma boa parte deles vai votar em Lula.

Em Dourados, Mato Grosso do Sul, índios pedem esmola nas ruas mas os fazendeiros andam de carro importado, a classe média compra aparelhos de tevê de tela plana e os remediados compram rádio, bicicleta e dvd.

O Wal Mart está chegando a esse novo Brasil.

Vai ser interessante - talvez trágico - assistir ao confronto dele com as bodegas de esquina.

O Blockbuster vem em seguida. Vai detonar o videoclube que faz fiado?

Emprestando a imagem de Franklin Martins, eu faria um reparo.

Não é que as ondas causadas pela pedra no lago atinjam o dique da classe C e refluam.

É que não somos mais apenas um grande lago, onde ALGUNS POUCOS atiram pedras.

Somos milhares de lagos, onde MILHARES atiram pedras - usando o You Tube, a rádio local, o jornal de bairro, a tradição oral do interior - expressa nas conversas de bar e no bate-papo das calçadas.

A falta de compreensão deste fenômeno deixa os gestores da grande mídia no escuro.

Já aconteceu de algum integrante do MST aparecer na TV sem ser chamado de bandido, arruaceiro ou baderneiro?

Qual foi a última longa entrevista de um líder do MST em uma emissora de tevê, de rádio, em um jornal?

Será que eles vão seqüestrar repórter para sair no jornal?

Claro que não - vão fazer seu próprio jornal.

Milhões de integrantes de movimentos sociais organizados vão votar em Lula porque se enxergam nele ou, pelo menos, por considerá-lo o candidato menos ruim.

Essa gente não é representada adeqüadamente na mídia do eixo Rio-São Paulo.

Jornalistas, profissionais de classe média, em geral procuram suas fontes onde é mais fácil encontrá-las: na academia, em representantes de entidades que defendem interesses corporativos e nas assessorias de imprensa.

Elas ganham para plantar entrevistados no rádio, nos jornais e na tevê.

É só ter o cuidado de fazer uma pesquisa: quantos centímetros de jornal e minutos de televisão são ocupados por analistas do mercado financeiro, profissionais liberais e especialistas de todo gênero?

Por que essas pessoas, em geral de classe média, expressariam na mídia os interesses da periferia, dos pequenos agricultores ou dos operários de chão de fábrica?

Por que a CUT decidiu criar seu próprio programa de rádio e de televisão?

Por que a Força Sindical segue o mesmo caminho?

O Brasil de Parelheiros vai aparecer na tevê a não ser em casos de chacina?

O Jornalismo, que um dia foi tratado como serviço público, agora vende notícia como produto.

De um lado, a independência financeira dá às empresas maior liberdade de manobra diante das forças políticas.

De outro, Parelheiros é sub-representada no conteúdo porque não vivem lá os consumidores tradicionais de notícia.

Os sem-terra não valem um tostão como notícia, a não ser quando mostram o que a elite quer ver neles: arruaça
e banditismo.

Durante sua primeira campanha eleitoral, nos Estados Unidos, Bill Clinton mandou pendurar no comitê de campanha uma placa com os dizeres: "It's the economy, stupid". É a economia, estúpido.

Uma forma de lembrá-lo de que americano vota com o bolso.

Não deveria ser novidade para ninguém: brasileiro também vota com o bolso.

Nossos comentaristas se entregaram, nos últimos meses, a desqüalificar os programas de transferência de renda.

Os programas foram atacados como assistencialistas, fruto do populismo de um presidente pai dos pobres.

É um jogo de palavras para desqüalificar os votos dos nordestinos, uma maneira indireta de expressar o preconceito - essencialmente paulista e carioca - contra os retirantes, os cabeça-chata, os pau-de-arara, os paraíbas.

Pode se discutir o mérito dos programas sociais e, como demonstrou o jornalista Ali Kamel no livro Não Somos Racistas, pode se argüir que seria mais inteligente investir em educação básica de qualidade para todos.

Mas não se deve esquecer que aqui também se manifestam interesses de classe: a elite paulistana não quer que o dinheiro de seus impostos seja investido com aquela baianada preguiçosa - até hoje proibida de usar os elevadores sociais nos edifícios chiques de Higienópolis, Moema e Itaim.

Descabida ou não, a transferência de renda turbinou o comércio das pequenas cidades nordestinas.

Serão milhões de votos para conservar Lula.

Portanto, quando algum comentarista disser que não entende como o presidente pode ser reeleito - apesar de todos os escândalos - ou é incompetente ou está a serviço de alguma campanha.

É ardiloso desqüalificar os eleitores de Lula, como se eles não soubessem votar, como se fossem mal informados ou ignorantes.

Enquanto escrevo, três militares da reserva divulgaram uma nota dizendo que a "sensação é de iminente perigo à Democracia".

["Nota dos Clubes Militares

Em meados de 2005, explodiu o escândalo do chamado "mensalão", a partir do flagrante preparado contra um funcionário desonesto e das denúncias abertas de um Deputado ameaçado pela armação que se preparava para fazê-lo o "bode expiatório".

A Nação a tudo assistiu, aturdida pela desfaçatez de homens públicos e membros do governo.

A partir de então, todos os dias são tornados públicos novos escândalos, sempre envolvendo pessoas próximas ao Governo, ao Presidente ou ao seu Partido.

As demissões, forçadas pelas circunstâncias e pelo constrangimento político, nunca foram acompanhadas de completa apuração e das punições necessárias.

A sucessão de casos escabrosos e de atos de corrupção já não surpreende o brasileiro honesto. Nesta semana, surge outro escândalo.

Uma tentativa de comprometimento de dois candidatos a cargos executivos com o "caso da compra das ambulâncias", mediante a negociação fraudulenta de suposto "dossiê".

Chantagem ou denúncia, mas com a evidente intenção de desqualificar concorrentes eleitorais.

Novamente, envolvendo assessor do Presidente, pessoas importantes na hierarquia do seu Partido e dinheiro de procedência duvidosa.

Já se torna evidente que a corrupção não é somente um ilícito do qual se beneficiam pessoas e grupos, mas sim algo que se transformou em meio de conquista e manutenção do poder.

A sensação é de perigo iminente à Democracia.

Por isso os Clubes Naval, Militar e de Aeronáutica, por seus Presidentes, sentem-se no dever de manifestar, publicamente, sua indignação com esse estado de coisas e de ressaltar a importância das próximas eleições como instrumento à disposição do povo brasileiro para o saneamento da vida política nacional.

Almirante Esq José Julio Pedrosa - Presidente do Clube Naval

Gen Ex Gilberto Barbosa de Figueiredo - Presidente do Clube Militar

Ten Brig Ivan Moacyr da Frota - Presidente do Clube de Aeronáutica"]

Esse ardil é, sim, golpista.

É a tentativa antecipada de tirar a legitimidade da escolha popular, abrindo espaço, no futuro, para manobras não republicanas de gente que não é exatamente modelo de democrata.

Por fim, há outros conservadores que tem razões de sobra para votar em Lula: os banqueiros, que nunca lucraram tanto quanto nos últimos quatro anos.

Quem diria: o Bradesco e o MST enfim unidos no mesmo lado da trincheira.

[Enquanto escrevo, pisca na tela do G1, o portal de notícias da Globo: "O nível de pobreza da população brasileira teve forte queda nos anos de 2004 e 2005, de 19%, comparável apenas à redução ocorrida no início de Plano Real, dez anos antes. Os dados fazem parte da pesquisa “Miséria, Desigualdade e Estabilidade: O Segundo Real”, divulgada nesta sexta-feira (22) pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e que analisa a pobreza desde 1992. No Plano Real, entre 1993 e 1995, a queda havia sido de 18,4%.]

Aqui não vai qualquer juízo de valor.

Lula chegou antes a esse Brasil que vai além dos consumidores de jornal, tevê a cabo e internet banda larga, seja por intuição ou por ter enxergado o que outros só olhavam.

Assistimos hoje a um espetáculo de hidrofobia que, lamentavelmente, não se fez quando a Vale do Rio Doce foi privatizada ou quando surgiram denúncias de que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso comprou votos no Congresso para garantir seu direito à reeleição.

Embora isso não justifique o banditismo de integrantes do governo Lula, está claro que sanguessugas, vampiros e mensaleiros começaram a agir no governo FHC.

O que fez a Polícia Federal, então?

E Aristides Junqueira, o engavetador-geral da República?

Houve mudanças no Brasil, sim, nem sempre para pior.

O controle inflacionário e os programas de transferência de renda implantados nos últimos doze anos produziram o fortalecimento de um mercado de consumo que vai além da Zona Sul belga das metrópoles brasileiras, dos tradicionais formadores de opinião.

O que sei, porque estive lá, é que o que Lula diz - e da forma que diz - pode parecer outro idioma para os brasileiros belgas, mas é perfeitamente entendido em Parelheiros, Goiânia e Dourados.

Ainda mais quando comparado com o que dizia o belga que o antecedeu.

Quer saber das investigações que fiz do governo Lula? Clique em:

http://viomundo.globo.com/site.php?nome=PorBaixoPano&edicao=268

Quer saber da discussão que eu e um grupo de jornalistas tivemos com o presidente Lula? Clique em:

http://viomundo.globo.com/site.php?nome=MinhaCabeca&edicao=247

(atualizado em 25 de setembro de 2006)

quarta-feira, 27 de setembro de 2006

Da credibilidade da grande mí(r)dia

A grande mídia não tem credibilidade junto ao povão. Também não tem credibilidade junto à classe média atenta e enojada com a atual onde de jornalismo marrom. Terá credibilidade junto àqueles que simplesmente gostam de ler o que querem ler?

Difícil responder.

Uma pessoa inteligente desconfiaria de quem engana. Mas estamos falando dos que descartaram o princípio de realidade e se prenderam ao princípio de prazer. Num caso como esse não há porque esperar comportamento conseqüente.

E, ainda assim, dá dó ver quem gosta de auto-enganar-se deixar-se ser enganado.

Para deixar claro, estou falando daqueles poucos que ainda compram jornais e os lêem porque os mesmos simplesmente dizer o que eles querem ouvir. Admitir só o que se quer ouvir é reger-se pelo princípio de prazer. Trata-se de um comportamento infantil. Uma pessoa madura aceita decepções, pois as mesmas fazem parte da realidade.

Uma boa notícia nessa história toda é a atitude profissional de poucos mas bons jornalistas como Luis Nassif e Franklin Martins. Os dois não só preocupam-se em apresentar pontos de vista ponderados como também dão opiniões bastante arrazoadas sobre a atitude auto-estupidificante dos seus pares profissionais menos preocupados com a verdade e o equilíbrio.

Em meio ao mar de tonterias e manipulações das páginas A2 e de editorias dos grandes jornais, esses dois jornalistas conseguem trabalhar sem se contaminar. Bravo para eles. E também para nós, pois precisamos de jornalistas responsáveis.

Atualmente os dois são - com alguns outros, quase todos na blogosfera - o último fiapo de credibilidade da mídia. Que sejam as sementes para um novo começo.

segunda-feira, 25 de setembro de 2006

Dos produtos milagrosos

Primeiro as famílias de mí(r)dia te empurram um caçador de mara(cu)jás.

Depois te empurram um rapaz branco, rico, com uma filha usuária de roupas caras. Decente.

Elite branca apela para o racismo - e só comprova que é racista

Na tentativa de justificar porque os brasileiros não os seguem na sua cobertura pouco profissional (para pegar leve) das eleições os jornais familiares começam a apelar para o racismo. A idéia básica é mostrar que eles, brancos cultos, são moralmente superiores aos negros e pardos incultos que formariam a maioria da população. A notícia e avaliação é de Franklin Martins:

Pretendia escrever a coluna de hoje sobre as discrepâncias entre as mais recentes pesquisas do Ibope e do Datafolha. Mas mudei de idéia ao ler matéria publicada no Estadão desta segunda-feira sob o título “Rigor com a corrupção na política varia com região e condição social” e o subtítulo “Eleitor do Nordeste expressa maior tolerância com desvios do que o do Sudeste”. É séria candidata ao primeiro lugar da campanha “Vamos envenenar este país” em curso em muitos jornalões brasileiros.

Jogando com números de uma pesquisa do Ibope que não prova nada, a matéria tenta sustentar a tese de que os nordestinos, os pobres e os negros dão menor valor à questão ética do que os habitantes do “Sul Maravilha”, os ricos e os pobres. Diz o Estadão: “No Nordeste, 10% dos eleitores declaram que votariam em político acusado de corrupção – índice próximo do Norte/Centro-Oeste, que é de 9%. No Sul e no Sudeste, esses índices são de 6% e 7%, respectivamente”.

Na realidade, as variações são mínimas, estão dentro da margem de erro da pesquisa e não indicam absolutamente nada. Aliás, se alguma coisa pode se depreender desses números é que, na valoração da questão ética, há um padrão razoavelmente homogêneo nas diferentes regiões do país – e não o contrário.

Mas há mais. O Estadão avalia também que a pesquisa do Ibope permite estabelecer relação entre cor de pele e rigor moral: “Os que se autodeclaram brancos são mais implacáveis com a ética: 88% não votariam num corrupto; os que se autodeclaram pardos cobram menos e 85% não votariam em indiciados por corrupção; mas os que se autodeclaram pretos são os menos rígidos com a ética: só 82% negam o voto a corruptos”. Queira-se ou não, a idéia que se passa é de que, quanto mais escurinha for a cor da pele, maior será a frouxidão com valores éticos.

Tenha a santa paciência. Está claro que o jornal tinha uma tese. Encomendou a pesquisa para dar-lhe sustentação, digamos, científica. O levantamento, porém, não comprovou o postulado (ou o preconceito). Se houvesse bom senso, arquivava-se o assunto. Mas, como alguém quer provar, sabe-se lá por quê, que o povão não “está nem aí” para a corrupção e que nossa elite tem padrões morais dignos de Catão, a pesquisa rendeu matéria.

Mais um pouco e descobriremos que os pobres, os nordestinos e os negros são os responsáveis pela corrupção no país, que os ricos não têm nada a ver com isso, que em São Paulo nunca se pagou nem se recebeu propina e que os brancos sempre repeliram com veemência a idéia de pagar ou de levar um “por fora”.

Não sei por quê, mas lembrei-me do samba “Não é conselho”, de Dário Augusto e Nilcéia Gomes, gravado em 1993 pelo grande Bezerra da Silva.

Clique para ouvir>>>

“É, doutor, isso é um alô,
Não é um conselho,
Mas não foi o preto quem botou
O meu Brasil no vermelho

Quando a coisa não vai bem
Eles dizem logo que está preta
Mas não foi o preto que travou
A grana da caderneta

Juro alto, inflação,
Mutretagem, mordomia
Mão não foi o preto
Quem botou o povão nessa agonia...


Como a maioria dos sambas cantados por Bezerra da Silva nessa fase, ele pega pesado. Mas que tem gente também pegando pesado demais nessa campanha, tem. Como dizem os jovens: “menos, gente, menos”. É muito fácil envenenar um país, e muito difícil desintoxicá-lo depois. É como o adolescente que cai na droga. Para entrar na onda, bastam meses (e alguma revolta). Para sair dela, às vezes, são necessários anos (e muito sofrimento). [...]
Encontrei essa notícia via RSUrgente.

Nassif: o jogo de perde-e-perde

Nassif. Um pouco de luz em meio ao calor desarrazoado:

[...] É evidente que, neste momento, ocorre uma competição entre praticamente todos os grandes veículos da mídia para saber quem derruba Lula primeiro.

[...] Lula tem erros enormes, como o “mensalão”, mas acertos enormes como a “Bolsa Família” e a incorporação definitiva das classes C e D às políticas públicas. É odiado por uma parte da opinião pública, amado por outra; e há um terceiro grupo que tem a estabilidade e a legalidade como valores maiores. Mais que isso: embora o PT e o governo sejam pródigos em dar motivo para o prosseguimento de campanhas anti-Lula, a catarse não é elemento auto-sustentável. Campanhas baseadas na catarse têm vida curta, cansam, esgotam.

Nesse contexto, jogar todas as fichas na queda de Lula é uma dupla armadilha, da qual não se tem como sair vitorioso. Se Lula fica, a mídia é derrotada. Se Lula cai, a mídia é derrotada. O fogo se alastra, e todos os problemas que o país enfrentar, a partir dali, serão tributados aos que derrubaram o governo, seja mídia, sejam lideranças políticas.

Depois de janeiro, os que estão crescendo, agora, com a exacerbação e a catarse, tendem a cansar. E os negociadores tendem a crescer.

[...] Está-se tentando repetir a história, quando o momento seria propício para o veículo que se colocasse acima das paixões, recuperasse a técnica jornalística e se comportasse como magistrado, duro, inflexível, porém justo, colocando a preocupação com o país acima das conveniências de momento. [...]


Na minha opinião ele tem bastante razão. Seria bom para todos, e inclusive para os negócios midiáticos, haver uma imprensa preocupada em respeitar as bases éticas e profissionais do jornalismo. Do jeito que a coisa anda não há porque comprar jornais, a não ser os populares, pois os mesmos são feitos para rir mesmo. E dá vontade de boicotar os produtos dos anunciantes, pois os mesmos ficam totalmente vinculados à mentira e ao espetáculo de mau gosto.

domingo, 24 de setembro de 2006

Declínio dos jornais e revistas de opinião

Em meados dos anos 90, jornais e revistas de opinião conquistaram os maiores índices de tiragem da história.

De lá para cá, a curva se inverteu por inúmeras razões. Algumas são estruturais, ligadas à entrada das novas mídias, não apenas a Internet, como o avanço da TV a cabo e do rádio – que ganhou status de formador de opinião. Mas outras razões foram decorrência da perda de foco do jornalismo de opinião, que de tanto buscar o espetáculo abriu mão de algumas qualidades intrínsecas do produto: credibilidade, rigor na apuração. Show por show, a TV, a Internet e os jornais populares levaram.
-- Luis Nassif

Identificação

Quanto às campanhas, todas as que precederam a atual foram mais intensas. Esta é insossa, anódina, inodora, a despeito do esforço que a mídia faz para demonstrar o erro dos próximos eleitores de Lula. O crime. O pecado. Não adianta. Com despolitização e tudo, a maioria identifica-se com o igual que virou presidente da República.
-- Mino Carta