sábado, 1 de março de 2008

Resposta ao artigo Três vivas à Kosova, de Uri Avnery

Ramez Philippe (no Blog do Bourdokan)

O artigo de Uri Avnery me lembra um ditado português, se não me engano, "desobedecer a El Rey para servir a El Rey".

Avnery é sionista até o último átomo de sua medula.

Neste artigo, falando de Kososvo, ele revela sua fé no sionismo.Kosovo era um província da Sérvia com grande população muçulmana. Foi separada manu militari pelos EUA e OTAN, com o extermínio de milhares de pessoas, para a construção de uma gigantesca base militar no Estado recém-criado.

A desculpa de sempre: é impossível cristãos e muçulmanos conviverem em paz e em prosperidade.

A mesma desculpa usada na Nigéria em 1971, no Chipre em 1974, no Líbano entre 1975-90, no Iraque, a partir de 1991, e na Iugoslávia.

Os EUA criaram o Estado muçulmano do Kosovo para implodir qualquer forma de nacionalismo laico e de contestação social-político-econômico. Os conflitos devem ser religiosos e culturais. Fica mais fácil manobrar tais enfrentamentos.

Usaram a mesma manobra quando criaram Israel, na Palestina, para jogar judeus contra muçulmanos, que durante 1500 anos, essa mesma Palestina acolheu judeus e cristãos em suas terras.

Tentaram fazer o mesmo com o Pequeno Líbano confessional cristão maronita.

A França tentou fazer o mesmo na Síria nos anos 1920.

O que Avnery defende não é soberania do Kosovo, mas sim, a soberania de Israel como Estado judeu. Por isso seus ataques ao estabelishment dito sionista. Avnery sabe que se Israel continuar suas invasões e ocupações de terras árabes, os judeus perderão a condição de maioria dentro do próprio Estado dito judeu.

Daí sua defesa da fórmula 2 povos, 2 Estados. Mesmo sabendo da impossibilidade física da constituição, na atual conjuntura, de um Estado Palestino. Daí suas condenações ao expansionismo e militarismo israelenses, pois sabe que quanto mais Israel vence as guerras, mais árabes passam ao controle judeu. Menos judeu se torna Israel.

Suas posições aparentemente anti-sionistas, corajosas, por sinal, são mais sionistas do que aquelas que supostamente são defendidas pela coalizão likudista-trabalhista no poder há 60 anos em Israel.

Um Kosovo muçulmano dá mais legitimidade a um Israel judeu. Assim como, um Líbano maronita dá mais legitimidade a um Israel judeu.

Israel sempre desejou dividir o mundo árabe em mini-Estados étnico-confessionais. Este era o desejo de Ben Gurion e de todos os demais líderes israelenses. Mais do que desejo, estratégias.

Os EUA agora aplicam tais estratégias em escala planetária, da Bolívia à China.

Paradoxalmente, Avnery ao apoiar a "independência" de Kosovo, está na realidade, indo ao encontro das idéias de Ben Gurion, do imperialismo francês e, agora, do imperialismo americano. Só que o caso em questão se situa nos Balcãs.

Desobedecer o sionismo para servir o sionismo. Este é o lema de Uri Avnery, que ainda assim é um homem corajoso.

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