quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Mais uma barrigada ideológica da "Veja"


A revista "Veja", porta voz radical da direita neoliberal no Brasil, tornou-se pródiga em barrigadas (1). A capa de sua última edição é um exemplo clássico, embora um tanto patético, de barrigada ideológica. Nela aparece um Tio Sam com um olhar ameaçador, a mão direita cheia de dólares e um dedo acusador a justificar uma manchete mentirosa: "Eu salvei você"! "Veja" sugere que "o mundo" foi "salvo pela ação do governo americano". O panfleto semanal da família Civita ficou deslumbrado com a euforia que animou os mercados de capitais no final de semana, após a notícia de que o governo Bush tinha um plano miraculoso, orçado em 700 bilhões de dólares, para debelar a crise do capitalismo parasitário dos EUA. O otimismo não durou muito, visto que as bolsas voltaram a desabar na semana em curso. Mais uma vez os editores foram traídos pelo dia de fechamento (sexta-feira) e a vulgaridade ideológica.

Vulgaridades

O texto da reportagem de capa é um primor de superficialidade e lorotas. Tece loas ao sistema financeiro e lamenta o estouro da bolha financeira. Reproduzo, para seu julgamento caro leitor (ou leitora), o seguinte e ilustrativo trecho:

"Graças ao sistema financeiro, quase meia centena de países antes estagnados hoje cresce a taxas de 7% ou mais ao ano. O aumento do nível e da qualidade de consumo no Brasil, a economia pujante do país e, por conseqüência, a popularidade recorde do presidente Lula se devem a cabeças brilhantes e maquiavélicas de Wall Street que inventaram esses gigantescos instrumentos de liquidez mundial. Por esse prisma, é uma pena que a bolha tenha estourado."

Falsa consciência

Trata-se de uma visão adocicada e fraudulenta da realidade. Marx já notava que a ideologia dominante, burguesa, forja uma representação invertida dos fatos, disseminando o que ele classificava de "falsa consciência", muito útil à preservação do sistema capitalista. O trecho acima é uma prova de que esta observação filosófica do grande pensador alemão ainda não perdeu atualidade.

A verdade, nua e crua, é que o sistema financeiro internacional, dominado pela especulação e ávido por lucros fáceis, é uma fonte intermitente de crises e foi também a causa de 25 anos de estagnação da renda per capita no Brasil e em vários países da América Latina, vítimas da crise da dívida externa. A suposição de que o crescimento das economias ditas "emergentes" se deve aos exóticos "instrumentos de liquidez mundial" criados por mentes "maquiavélicas de Wall Street" é cínica e falaz – um exemplo de representação invertida da realidade.


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