quarta-feira, 14 de abril de 2010

Strawberry fields forever

Os homens europeus descem sobre Marrocos com a missão de recrutar mulheres. Nas cidades, vilas e aldeias é afixado o convite e as mulheres apresentam-se no local da selecção. Inscrevem-se, são chamadas e inspeccionadas como cavalos ou gado nas feiras. Peso, altura, medidas, dentes e cabelo, e qualidades genéricas como força, balanço, resistência. São escolhidas a dedo, porque são muitas concorrentes para poucas vagas. Mais ou menos cinco mil são apuradas em vinte e cinco mil. A selecção é impiedosa e enquanto as escolhidas respiram de alívio, as recusadas choram e arrepelam-se e queixam-se da vida. Uma foi recusada porque era muito alta e muito larga. São todas jovens, com menos de 40 anos e com filhos pequenos. Se tiverem mais de 50 anos são demasiado velhas e se não tiverem filhos são demasiado perigosas. As mulheres escolhidas são embarcadas e descem por sua vez sobre o Sul de Espanha, para a apanha de morangos. É uma actividade pesada, muitas horas de labuta para um salário diário de 35 euros. As mulheres têm casa e comida, e trabalham de sol a sol. É assim durante meses, seis meses máximo, ao abrigo do que a Europa farta e saciada que vimos reunida em Lisboa chama Programa de Trabalhadores Convidados.


Vejam o texto completo em EXPRESSO

3 comentários:

José Elesbán disse...

O retrato pintado é feio, mas me pergunto quais são as alternativas. Estas mulheres marroquinas ganham 35 euros por dia para trabalhar de sol a sol, ou mais de 700 euros por mês. Talvez a situação seja ultrajante para a jornalista portuguesa, mas aqui no Brasil há mulheres trabalhando com uma carga mais pesada nos cultivos de cana, e provavelmente ganham menos.

José Elesbán disse...

Quais são as alternativas e como alcançá-las?

José Elesbán disse...

Estes tempos li algo sobre os meninos no Paquistão. Eles trabalhavam para uma multinacional de material esportivos, costurando bolas de futebol manualmente. Houve campanha para boicotar a tal multinacional, pois ela usava trabalho infantil em seus produtos. Ela mudou seus contratos e exigiu dos fornecedores que não mais empregassem crianças. O boicote contra o material esportivo foi levantado.
Os meninos não foram para a escola e para as brincadeiras. Foram trabalhar em olarias, num trabalho mais penoso, menos qualificado e com remuneração (ainda) menor.
Mundo complicado. Crianças deveriam de fato estar brincando e estudando.
Mulheres adultas do Marrocos o que deveriam estar fazendo?