quarta-feira, 9 de junho de 2010

DOSSIÊ RESPIRA POR APARELHOS


Em ensaio escrito em 1988, o jornalista e sociólogo Perseu Abramo afirmou que “uma das principais características do jornalismo no Brasil, hoje, praticado pela maioria da grande imprensa, é a manipulação da informação”. À época do texto, o país ainda não tinha voltado a ter eleições diretas para a Presidência da República, o que aconteceu no ano seguinte, já com uma atuação notória da imprensa, na edição manipulada do debate entre Lula e Collor.

De lá para cá, a cada eleição presidencial é um desfile de manipulações que desacreditam a imprensa brasileira e revelam o caráter dos grandes meios. Agora mesmo, estamos diante de um suposto dossiê, que o PT teria encomendado a um araponga para denegrir o candidato do PSDB, José Serra.

A história surge na revista Veja dando conta que um grupo dentro da campanha de Dilma teria ensaiado um dossiê para atingir José Serra. A denúncia não fala do conteúdo do dossiê, que envolveria a filha do candidato, Verônica Serra. A blogosfera, que tem sido sempre ágil em desmontar as armações midiáticas, identifica no dossiê um livro que está sendo preparado pelo jornalista Amaury Ribeiro Jr sobre as privatizações tucanas e seus beneficiários. A denúncia do suposto dossiê teria sido, na verdade, um contra-ataque para tentar desqualificar o livro que promete abalar as hostes tucanas.


Vejam o texto completo em DIRETO DA REDAÇÃO

Um comentário:

Unknown disse...

Dossiê é detergente

Funciona assim: contrato alguém para espionar a mim mesmo, descobrir segredos que possam interessar aos adversários. Aparece uma lista de capivaras incômodas e a partir de então ficamos atentos. Assim que os farejadores alheios puxam aqueles rabichos, e antes que possam organizá-los em alguma investigação compreensível, saímos a público denunciando que estão a elaborar um maldoso dossiê. Para provar, até divulgamos o assunto. Sempre que aparece aquela suspeita, reagimos com indignação democrática, devolvendo o prejuízo à imagem dos “arapongas”.
Qualquer campanha a prefeito de cidade mediana tem sua equipe de contra-informação. A maioria é formada por jornalistas (quem disse que o diploma não serve para nada?), mas há também publicitários, ex-policiais e aspones em geral. Eles se conhecem, é um meio relativamente fechado. E não há ingênuos: repórter ou analista que cobre eleições para grande veículo e nega a existência desses grupos em todos os partidos está sendo mentiroso. Para entender o alcance da estrutura a serviço de José Serra, basta realizar uma pesquisa rápida nos arquivos de qualquer jornal, procurando menções a Serra, à Polícia Federal e a Marcelo Itagiba. Isso vem de longe e não deveria mais causar espanto.
Talvez o PT esteja correto em sua estratégia de tratar o caso como histeria de perdedor. Mas, precisando, pode partir das próprias denúncias preventivas da Veja, que levantou a lebre e misteriosamente "esqueceu" de averiguá-la. É batata.