quinta-feira, 14 de julho de 2011

A DESREGULAÇÃO FINANCEIRA GEROU O CAOS ECONÔMICO; A DESREGULAÇÃO MIDIÁTICA GEROU RUPERT MURDOCH

A mídia brasileira tem optado por uma abordagem insuficiente -para dizê-lo com indulgência--  dos desdobramentos que  o escândalo  do ‘News of  the World' coloca no tocante  às relações entre o dinheiro, a democracia e o direito à  informação. Há razões para crer que não seja apenas um descuido. Privar a sociedade das interações implícitas e da contextualização política explosiva  de um episódio que só na aparência pode ser tratado como o  caso específico de um tabloide inglês marrom, sugere um esforço de autopreservação diante do espelho incômodo, cuja trinca esfarela  todos os semelhantes a sua volta. É perceptível o labor para dar ao escândalo do  ‘ News of de World'  o recorte de um ponto fora da curva. O fato, porém, é que o direitista Rupert Murdoch, seu proprietário, montou e maneja no circuito  Inglaterra/ EUA o maior conglomerado de mídia em língua inglesa do  planeta. Controla simultaneamente as pautas e narrativas veiculadas em diferentes praças e as repercute em todas as formas de mídia. O Brasil sabe o que isso significa, especialmente em períodos eleitorais. A investigação jornalística isenta não conseguiria explicar  como fruto da  coincidência que os tentáculos do império Murdoch incluam na folha de pagamentos o ex-assessor de imprensa do primeiro-ministro inglês David Cameron -cujo frequentava as festas da editora do ‘News of the World'; ou ,como lembra Lúcia Guimarães, brava correspondente do Estadão em Nova Iorque, que o fundador e atual presidente da rede Fox News, --o canal de tevê norte-americano de Murdoch-- seja Roger Ailes, ex-assessor de propaganda de  Richard Nixon e de George Bush pai.Nos anos 70 Ailes foi o autor de um estudo sugestivamente intitulado: ‘ Como Colocar o Partido Republicano na Mídia'. Manipulação e  democratização dos meios de comunicação são formas de mediação social que se combatem.  A  manipulação viceja no terreno pantanoso da semi-informação e da semi-cultura que desarma os espíritos  e embrutece o discernimento da liberdade e da Razão, prostrando a cidadania com o espraiamento tóxico do jornalismo que combate  idéias e defende interesses destruindo reputações e alvejando biografias. Seria oportuno  que as autoridades do país, ainda hesitantes diante da necessidade de regulação da mídia, acompanhassem atentamente o debate em torno do método Murdoch de jornalismo --e não o fizessem apenas com base na mídia local.

(Carta Maior; 5º feira 14/07/ 2011)

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